A incontinência anal produz grande impacto na qualidade de vida dos pacientes, podendo, em casos graves, acarretar grave isolamento social. Este quadro é definido como a perda involuntária pelo ânus de fezes e gases por pelo menos 3 meses. Estudos indicam que cerca de 8% da população apresenta algum grau de incontinência ana, mas por se tratar de uma situação que desencadeia grande constrangimento, a maioria pacientes não relatam seus sintomas, tornando difícil estimar sua real prevalência
A perda da capacidade de reter as fezes está relacionada com uma ou mais das seguintes alterações:
– fraqueza do esfíncter anal: podem ocorrer por causas traumáticas ou não traumáticas. Como causas atraumáticas, podemos citar a diabetes ou a lesão medular que alteram a inervação local. Já entre as causas traumáticas, destacamos as lesões esfincterianas causadas pelas cirurgias da região anal e o parto por via vaginal. Durante o parto, pode ocorrer laceração do esfíncter anal ou lesão do nervo pudendo causando ao enfraquecimento do esfíncter. O uso de fórceps, os bebês com alto peso, o trabalho de parto prolongado e o bebê mal posicionado são fatores de risco para lesão durante o parto.
– sensibilidade retal diminuída: a diabetes, as lesões da medula ou outras causas de neuropatia podem afetar a inervação local.
– diminuição da complacência retal: a radiação, a doença inflamatória intestinal e cirurgias retais podem diminuir a capacidade de armazenamento retal.
– transbordamento: a impactação fecal e as fezes petrificadas no reto geram diminuição do tônus do esfíncter anal interno permitindo o escape de fezes líquidas.
Além disso, existem fatores de risco que contribuem para o surgimento desta disfunção, sendo os principais, o envelhecimento, a diarréia, a urgência evacuatória, a incontinência urinária, a diabetes e a terapia hormonal.
O diagnóstico deve ser realizado através da coleta detalhada da história do paciente, do exame físico, e de exames complementares. A manometria avaliará as pressões esfincterianas e a sensibilidade retal, mensurando a função esfincteriana. As alterações anatômicas poderão ser evidenciadas através do ultrassom endorretal ou da ressonância magnética da pelve. A colonoscopia será útil para avaliar a presença de tumores ou das doenças que cursam com diarréia. Em casos refratários , a defecorressonância magnética ou a defecografia estarão indicadas e fornecerão dados do mecanismo evacuatório e sua relação com órgãos adjacentes.
O tratamento varia com a gravidade da incontinência, muitas vezes é desafiador e pode ser dividido em duas fases.
A primeira fase compreende o tratamento suportivo e medicamentoso. No tratamento suportivo, além do paciente ser orientado sobre atividades e alimentos que pioram os sintomas, ele será orientado sobre os cuidados com a pele da região e a higiene local. Já o tratamento medicamentoso terá como objetivo diminuir a frequência evacuatória e aumentar a consistência das fezes.
A segunda fase estará indicada para os pacientes que não responderem ao tratamento inicial. Será oferecido abordagens mais específicas como biofeedback, neuroestimulação sacral, injeção de agentes preenchedores e esfincteroplastia. Entre estas abordagens, é importante destacar a neuroestimulação sacral que tem apresentado resultados promissores e pode ser oferecida tanto para pacientes com lesão esfincteriana, quanto para aqueles que não apresentam lesão.
O coloproctologista é o especialista indicado para realizar o diagnóstico e o tratamento da incontinência anal. Para encontrar um coloproctologista perto de você, acesse o site da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (sbcp.org.br) ou da Sociedade Mineira de Coloproctologia (smcoloprocto.com).